Nos próximo 40 dias a cidade de Fátima assistirá ao acabrunhado fim de uma era. A era Sorria.Após 3 mandatos, o sexagenário líder político está se despedindo da vida pública. Sua saúde já não é mais a mesma e o capital político desmoronou numa avalanche de críticas, denúncias e, por fim, desprezo por parte dos seus apoiadores mais fiéis que alimentaram a esperança de ver um Sorria combativo nessas eleições.
Manoel Messias Vieira, o Sorria, é natural do Tingui, atualmente parte do município de Sítio do Quinto. Chegou ainda jovem em Fátima e fez carreira política às vezes lado a lado, às vezes contra o então cacique político da época, João Maria de Oliveira. Elegeu-se prefeito pela primeira vez em 2000 e se reelegeu para um segundo mandato em 2004. Em 2016 elegeu-se para seu terceiro e último mandato como prefeito do município.
Sua carreira política é marcada por sombrias ocasiões e suas campanhas políticas sempre foram demasiadamente caras. Ousado em seus embustes, gastava rios de dinheiro durante o processo e inaugurou a fórmula de “fazer política na reta final de campanha”. Seus mandatos sempre foram bastante contestados nos três primeiros anos, sendo o quarto e último destinado a inaugurar obras e, como ele mesmo diz: “pentear as áreas de maior visibilidade” para tentar ludibriar o eleitorado. Nos oito dias que antecediam as eleições, entrava em uma espécie de transe de ganância e varria as áreas rurais do município com veículos carregados de dinheiro e homens armados empreendendo a sua política particular.
Quando o assunto era justiça, estranhamente demonstrava tranquilidade e segurança. As centenas de processos que a todo momento constaram em seu nome, foram sempre para o ralo do obscurantismo, salvo algumas exceções. Entretanto, foram justamente essas exceções que impuseram vergonhosos episódios ao seu currículo. Em seu segundo mandato o município foi sorteado para uma auditoria feita pela Corregedoria Geral da União (CGU) e essa notícia, dizem, levou o então prefeito ao Hospital após uma crise de hipertensão. Na ocasião diversas irregularidades foram apontadas, mas a mais escabrosa foi a falsificação das assinaturas de quase trezentos professores e o consequente desvio de quase 300 mil reais da remuneração daqueles profissionais. Diversos professores tiveram que depor e constataram por unanimidade a falsidade das assinaturas na folha de pagamento da prefeitura.
Mas o episódio que talvez traga mais lembranças ruins para Sorria muito provavelmente se deu no dia 13 de maio de 2014 quando ele foi preso, juntamente com o então prefeito Idelfonso (Nego) e uma série de pessoas, pela operação 13 de maio da Polícia Federal, acusado de ter criado um milionário esquema de corrupção que, de acordo com as acusações, se iniciou no seu governo e continuou com o seu sucessor. Foram cinco dias presos e mais uma mancha em sua carreira política.
Apesar disso, Sorria voltou. Para a surpresa de todos, que o julgavam inelegível, foi candidato em 2016 e, gastando milhões, conseguiu se eleger para o seu terceiro mandato por apertada margem. Com 254 votos de frente, 51.11% dos votos válidos, derrotou o jovem candidato do PT, Binho de Alfredo, e sentou na cadeira de prefeito para o seu pior mandato.
Longe de ser o Sorria de sempre, colecionou problemas de saúde e por pouco suportou as noites sem dormir e as correrias nas áreas rurais com seus comboios de carros, dinheiro e seguranças armados. No transcorrer da gestão, deu sinais desde o início de que não planejava mais disputar outra eleição. Alheio aos problemas do município, pouco era visto na prefeitura e, com frequência, aparecia um ou outro indício de falcatrua. Seu último mandato foi de longe o pior, não que os outros dois tenham sido bons, mas o terceiro foi notório pelo descaso e abandono.
Ao encerrar a votação de 2020 ficou claro que Sorria foi o grande perdedor da eleição. Sem condições de concorrer devido à grande impopularidade e rejeição apontada nas pesquisas, viu que não haviam condições de se reeleger. Isso, aliado aos problemas de saúde e da avançada idade, o obrigaram a abdicar da própria reeleição.
Assim chega ao fim um período da história do município que provavelmente carregará o nome de A Era Sorria. E um dos políticos mais notórios do nosso jovem município encerra a sua vida pública enfraquecido pela idade e também pelos problema de saúde, é verdade, mas a principal causa do lamentoso fim da sua vida pública foi o desgaste da sua forma de fazer política que tanto mal fez à política local, que viciou as instituições e corrompeu costumes. Assim, findada essa malfadada era para a cidade de Fátima, uma nova janela se abre para a nossa cidade. É um momento de ruptura com uma série de práticas políticas que, ao longo dos anos, tornou-se senil e a chegada de um novo ciclo na vida política de Fátima.
- Observatório
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